Ler os clássicos pode parecer um mero “exercício de erudição”, como certa vez vi um autor insinuar. Aprofundar-se na literatura clássica é um mergulho em estruturas, ritmos e sensibilidades que continuam a moldar a forma como pensamos a narrativa. Cada clássico traz consigo não só um enredo, mas também um aprendizado silencioso para quem escreve hoje. Afinal, estas obras se tornaram clássicos, marcaram eternamente a prosa e a cultura, formaram – e formam – escritores, promovendo um intercâmbio de escritas que nunca tem fim.
Edith Wharton, por exemplo, tem um olhar social inconfundível: em poucas linhas, desenha ambientes inteiros e revela tensões escondidas sob a superfície da vida elegante. Virginia Woolf, por sua vez, oferece outro aprendizado essencial: a arte do fluxo de consciência, em que a percepção íntima do personagem importa tanto quanto os acontecimentos exteriores.
Henry James nos ensina a sutileza – seus narradores filtram os fatos por ângulos tão refinados que cada silêncio tem peso. Liev Tolstói mostra a amplitude: como a narrativa pode abarcar, com igual força, as paixões individuais e os fatos históricos. Já Dostoiévski é o mestre da tensão psicológica, lembrando-nos de que o drama humano se constrói tanto no gesto quanto na culpa.
Ao trabalhar na reedição desses autores, entendo a literatura clássica como uma oficina interminável, pois ela vai muito além das obras mais correntes. E, é bom lembrar, mesmo no caso destas obras consagradas pelo público, cada leitura é nova e reveladora. Como leitor e, posteriormente, revisor, aprendi que em literatura clássica nada é por acaso – cada ocorrência é intencional: uma vírgula pode mudar a cadência, como um detalhe aparentemente menor sustenta a atmosfera de um capítulo inteiro.
Para o escritor contemporâneo, o clássico é mais do que referência: é ferramenta. Ele amplia repertórios, revela soluções inesperadas e lembra que a literatura é, antes de tudo, uma experiência sensível. Afinal, escrever bem não é apenas ter algo a dizer, mas encontrar a forma certa de fazer o leitor sentir, é usar as ferramentas narrativas, de pontuação, rima, ritmo, sonoridade… é usar e abusar de tudo que a linguagem nos proporciona. É amadurecer e ter personalidade como escritor, mas nunca deixar de ser um leitor humilde, disciplinado e pronto a aprender.
Ricardo Marques é graduado em Letras e especialista em “História, Cultura e Sociedade”. Desde 2015, atua como revisor e tradutor de obras literárias. Nos últimos anos, tem se dedicado sobretudo à pesquisa e às reedições de clássicos da literatura brasileira e estrangeira.