Por que Crime e Castigo continua indispensável para quem escreve hoje

Por que Crime e Castigo continua indispensável para quem escreve hoje

Ler Crime e Castigo, de Dostoiévski, é uma experiência que ultrapassa séculos. Publicado em 1866, o romance poderia – para desavisados – soar distante, mas sua força narrativa permanece viva. A cada releitura, percebo como Dostoiévski constrói tensão com uma naturalidade que ainda desafia qualquer escritor veterano.

A história de Raskólnikov narra, em essência, escolhas e suas consequências. Uma das ferramentas fundamentais na construção desta narrativa é a forma como o autor alterna silêncios e explosões, frases longas e abruptas, vírgulas que parecem respirar junto com o personagem. E é aí que vejo a atemporalidade do texto: a técnica invisível que faz a literatura pulsar.

Quem escreve hoje pode aprender com esse equilíbrio. Não se trata de imitar o estilo russo do século XIX, mas de perceber que o ritmo de uma frase pode carregar tanto drama quanto o enredo. Uma pausa mal colocada, um excesso de palavras, e a cena perde impacto. Na brilhante tradução de Juliana Garcia, vemos este e outros pontos transpostos ao português, um cuidado fundamental quando se trata de uma obra com tantas camadas.

É comum se dizer que o texto é um organismo vivo. Com Dostoiévski, entendemos isso mais claramente: cada detalhe importa, da escolha vocabular à cadência da narração. Trabalhar na reedição de um clássico é, em parte, escutar essas batidas — e garantir que elas cheguem inteiras ao leitor.

Por isso e por muitas outras camadas e nuances, Crime e Castigo continua atual. Porque nos lembra que, mais do que contar histórias, a literatura é a arte de fazer o leitor sentir. E esse desafio, de Dostoiévski a qualquer escritor contemporâneo, nunca envelhece.

Crime e Castigo, 580 páginas – capa dura

Editora Pandorga, 2025

Tradução: Juliana Garcia

Revisão: Ricardo Marques

 

Ricardo Marques é graduado em Letras e especialista em “História, Cultura e Sociedade”. Desde 2015, atua como revisor e tradutor de obras literárias. Nos últimos anos, tem se dedicado sobretudo à pesquisa e às reedições de clássicos da literatura brasileira e estrangeira.

Ricardo Marques

É editor, tradutor e revisor textual. Trabalhou diretamente em mais de 150 obras, com destaque para dezenas de clássicos da literatura estrangeira e nacional.

Categorias de artigos

Últimas novidades